12 de fev. de 2011

Por Carlos Chagas

  • O MENSALÃO E A ARTE DE DUPLIPENSAR

O genial George Orwell, no “1984”, criou uma situação inusitada no mundo para ele então futuro, pois escreveu em 1937. As doutrinas fascista e comunista prevaleciam em todos os continentes. Na Inglaterra imaginária o governo do “Grande Irmão” jogava com a História, modificando o noticiário de  edições antigas de jornais conforme os interesses do momento. O ministério do Amor fazia a guerra e todo mundo era obrigado a “duplipensar”, ou seja, a aceitar as conflitantes verdades absolutas do governo como rotina.
Com todo o respeito, ou melhor, sem nenhum respeito, prepara-se o PT para demonstrar que o mensalão não existiu. Com o “Grande Irmão” à frente, a campanha visa influenciar a decisão que o Supremo Tribunal Federal tomará ainda este ano, julgando os 40 réus atualmente processados por envolvimento na deletéria prática de pagar e receber  mensalmente vastas quantias de dinheiro  para garantir fidelidade nas votações do Congresso.
Não há como apagar o passado, a não ser apelando para a estratégia referida por George Orwell: verdade é mentira, mentira é verdade.
Importa menos se alguns dos 40 réus poderão  ser absolvidos, por falta de provas ou  por estarem sendo  processados injustamente. Fala-se do empenho dos companheiros em livrar a barra de José Dirceu, apesar dele ter sido apontado pelo então Procurador Geral da República como “chefe da quadrilha”.  Pode até ter sido envolvido na maracutaia sem dela  ter participado, hipótese difícil mas incluída nos preceitos  maiores do Bom Direito: todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa.
O que não dá para aceitar é a negativa da existência do mensalão. Pombos-correio do PT, do PTB e de outros partidos foram flagrados conduzindo malas de dinheiro, de Belo Horizonte e de São Paulo  para Brasília. Marcos Valério orquestrava a obtenção de recursos junto a  bancos e empresas estatais, enquanto  Delúbio Soares selecionava os  deputados aptos a receber suas parcelas.
Negar essas operações fraudulentas é mergulhar em “1984” em pleno ano de 2011. Está tudo provado e comprovado por documentos e por depoimentos variados. Supor que o mensalão não passou de uma conspiração contra o governo Lula beira as raias da safadeza. Resta, pois, esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal, com os votos de que nesse banquete da iniqüidade não venha a ser servido um “supremo de frango”.
FISIOLOGISMO PURO
Empenham-se os cardeais do |PMDB em obter do governo Dilma nomeações para os seus derrotados. Querem diretorias de estatais e vice-presidências da Caixa Econômica para Geddel Vieira Lima Orlando Pessuti, José Maranhão, Íris Resende e muitos outros. Convenhamos, eles disputaram e perderam a eleição, em outubro passado. Se devem ser aquinhoados com prêmios de consolação, por que não estender a sinecura a quantos candidatos não se elegeram. Deveriam os referidos políticos, e outros, estar pensando nas próximas eleições e preparando-se para disputá-las.
COBRANÇA
Aloísio Nunes Ferreira fez sua estréia na tribuna do Senado, ontem, cobrando da presidente Dilma Rousseff declarações como candidata, quando negou a possibilidade de ajustes fiscais ou cortes de gastos públicos. Demonstrou, o senador mais votado de São Paulo, o ânimo de recuperar o PSDB. Falou que Dilma era a alma do governo Lula, agora vendida ao diabo.  Denunciou o mistério embutido no anúncio do corte de 50 bilhões, porque ninguém sabe exatamente o que será atingido. Há que enfrentar os ralos por onde escorre o dinheiro público, constituindo-se em perfumaria governar sem enfrentar o cassino da especulação financeira.
Mais do que o conteúdo das críticas de Aloísio Nunes Ferreira emerge de seu pronunciamento o ânimo dos tucanos em encerrar as brigas internas e tentar fazer oposição de verdade.
A PRIMA RICA DE FEDERAÇÃO
Quem também fez seu primeiro pronunciamento no Senado, ontem, foi Ana Amélia, do Rio Grande do Sul. Entre outros temas, referiu-se ao descompasso na arrecadação de recursos no país, já que a União, ou seja, o governo federal, fica com 70% do arrecadado, sobrando 30% para os Estados e Municípios, apesar dos encargos com educação, saúde e segurança pública. Defendeu, também, os estados do Sul, prejudicados pelo custo da produção agrícola e industrial frente às importações que o governo patrocina. Deu um exemplo: por que o Brasil importa autopeças do Egito, a preços inferiores às  que aqui produzimos? Também denunciou que tem fechado suas portas inúmeras  lojas comerciais brasileiras situadas em cidades da fronteira com o Uruguai e a Argentina por conta dos encargos a que são submetidas, em confronto com as concorrentes  subsidiadas pelos respectivos governos.