5 de fev. de 2011

Educação - uma coleção de desafios

Arnaldo Niskier
  • Para matar as saudades, recorri ao Dicionário da Língua Portuguesa, do filólogo Antenor Nascentes, para obter o registro preciso do adjetivo insensato. É tudo que é contrário à razão ou ao bom senso. A novela “Insensato coração”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, começa a fazer sucesso e, por uma inexplicável associação de ideias, ocorreu-me aplicar o título à precária situação da educação brasileira.
  • Tem muita coisa que se custa a entender, apesar dos reiterados diagnósticos que são feitos no setor. Assim como se discute o valor do salário mínimo, há diversas versões para o percentual do PIB a ser destinado à educação, com uma certeza absoluta: os atuais 5,2% são rigorosamente insuficientes. Na campanha presidencial, falou-se em 7% e agora, de forma aparentemente irresponsável, existem os que defendem 10%, sem esclarecer de onde sairiam os recursos.
  • É certo que quanto mais, melhor, mas não é aí que reside o nó da questão. Convém lembrar o sábio pensamento do Embaixador Roberto Campos: “Não se gasta absurdamente pouco em educação, mas absurdamente mal.”
  • Isso dito há mais de 10 anos parecia uma provocação, mas ainda está bem perto da realidade.
  • Outra insensatez é a incompetência para enfrentar o drama do magistério. Os professores são mal formados e pessimamente remunerados. Como pretender, assim, uma educação de qualidade? Os cursos de formação de professores padecem de um abissal anacronismo. Colocar um computador na mão de quem não sabe manejá-lo significa muito pouco.
  • Pensando bem: desde que essas máquinas terríveis entraram no cotidiano das escolas, qual foi o aperfeiçoamento dos conteúdos? O resultado pode ser encontrado nos mapas de classificação do exame internacional chamado Pisa.
  • Ultimamente, são raras as novas escolas construídas. Parece que houve um certo cansaço das autoridades em relação ao assunto. É possível lembrar que, no Estado do Rio de Janeiro, no período de 1979 a 1983, foram inauguradas 88 escolas. Era o melhor caminho para alcançar outra conquista necessária: o desejado tempo integral, que é uma característica básica de todo e qualquer país desenvolvido. Quando se sabe que, entre nós, no ensino médio, cheio de furos, as aulas diárias não passam de quatro horas, já se vê o tamanho do fosso. E tem mais um óbice: cursos médios oficiais estão sendo ministrados em escolas municipais, por empréstimo, o que dá bem a dimensão da sua ausência de prioridade.
  • Nossas escolas públicas têm bibliotecas? Não.
  • Têm laboratórios equipados? Não.
  • A distorção idade-série está sob controle? Não.
  • Reduzimos os fenômenos da evasão e da repetência? Não.
  •  Há iniciação científica nas escolas? Não.
  • Os índices de leitura estão crescendo? Não.
  • Os livros didáticos distribuídos gratuitamente são bem escolhidos e bem distribuídos? Não...
  • E muito mais poderia ser lembrado...
  • No fundo, o que se sabe mesmo é que a educação não tem sido prestigiada por uma consistente vontade política.Arnaldo Niskier, da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE/Rio.