8 de jan. de 2011

Água fresca para quem chega primeiro na fonte...

Carlos Chagas
Diz o provérbio árabe que bebe água fresca quem chega primeiro na fonte. A derrota de José Serra para Dilma Rousseff fez acender a sede no ninho dos tucanos. Dirão ser  muito cedo para traçar estratégias e, mais ainda, para selecionar candidatos à sucessão de 2014. Ledo engano.  Já se movimentam os pretendentes, claro que contando com mil e uma incógnitas.
Se o governo Dilma der certo, se alcançar significativos índices de popularidade na esteira de realizações ainda por vir, nada impedirá que a presidente dispute um segundo mandato. Seria o Plano A, para o PSDB: enfrentar uma adversária aparentemente sem carisma. O Plano B ficaria na dependência de uma sofrível  performance da atual administração e na decisão de Dilma  de não concorrer. Nessa hora, emergiria a candidatura Lula, ainda que arranhada pela hipotética evidência de a sucessora não ter dado certo.  Seria o que de pior aconteceria no ninho dos tucanos. Enfrentar o ex-presidente equivaleria a uma disputa quase perdida de ante-mão. Contar que o Lula será esquecido é o mesmo que supor elefantes voando.
A partir dessa equação obviamente inconclusa é que se movimentam os possíveis candidatos da social-democracia cabocla. A começar por José Serra, obstinado na sustentação de que só perdeu duas vezes, podendo ainda disputar mais duas e vencer na quarta, se a experiência do Lula puder repetir-se. O problema é o desgaste político do ex-governador paulista, sem mandato, além de sua idade.
Duas outras hipóteses  sedimentam-se frente a frente, à maneira de, com perdão da comparação,  dois pistoleiros no faroeste:  Geraldo Alckmin e  Aécio Neves.  Como alternativa, o  governador paulista  contará com a chance da reeleição e o senador mineiro, com mais quatro anos de mandato, depois da próxima eleição presidencial. Assim, poderão evitar o  embate com o Lula, deixando o sacrifício para José  Serra. Mas,  se a adversária for a Dilma, penas soltas  e bicos partidos encherão o céu, antes da disputa principal.  Ou melhor, já podem ser notados  na fronteira entre Minas e São Paulo.
Por enquanto é o que se registra, em termos da remota  sucessão presidencial, mas vale ficar com os árabes: água fresca é para quem chega primeiro na fonte.

OBRAS PRIVADAS COM DINHEIRO PÚBLICO -  Movimentam-se as empreiteiras de sempre atrás de mais detalhes sobre a privatização dos novos terminais dos aeroportos. É preciso que o governo explicite a decisão da presidente Dilma Rousseff.   Que aeroportos deverão ser ampliados por ação da iniciativa privada? Cumbica, Congonhas, Campinas, Galeão, Santos Dumont, Brasília e que outros mais? Depois, que ministério centralizará as definições e operações? Qual o prazo para as melhorias e de que maneira o capital será remunerado uma vez concluída a expansão? Serão cobradas entradas aos passageiros e visitantes,  o comércio local ficará por conta  dos construtores, haverá acréscimo nas passagens aéreas?
Um aspecto, porém, já parece decidido: as empreiteiras contarão com recursos do BNDES, dos fundos de pensão  e sucedâneos para tocar as obras. No fim, tudo acontecerá com dinheiro público, ou do público, à maneira das outras privatizações...

DESTAQUES -  Alguns ministros começaram a destacar-se do conjunto através de iniciativas já anunciadas.  José Eduardo Cardoso, da Justiça, saiu na frente, pretendendo reunir-se com os governadores para a elaboração de uma política comum de segurança pública. Paulo Bernardo, das Comunicações, vai investir contra concessões de emissoras de rádio e televisão dadas a políticos, prática que se não for milenar chega perto. Fernando Haddad, da Educação, fala em ensino médio de tempo integral, casado com o ensino técnico. Garibaldi Alves, da Previdência Social, promete reajustes especiais aos aposentados acima do salário mínimo. Aguardam-se outros.
JÁ COMEÇOU -  Antes mesmo de assumir, o novamente senador Roberto Requião dá sinais de que continua o mesmo, ou seja, não compactua com o que entende errado, seja no seu partido, o PMDB, seja no governo, que apóia meio de longe. Vai votar contra o  novo salário mínimo de 540 reais, para ele e para torcida do Flamengo considerado insuficiente. Junto com Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, o ex-governador do Paraná vai dar trabalho. Ainda bem.