30 de set. de 2010

Rosane Oliveira/Zero Hora/RS

Supremo desgaste
Depois do fiasco protagonizado por seus ministros, que na semana passada não conseguiram chegar a uma decisão sobre a aplicação imediata da lei da Ficha Limpa, tudo o que o Supremo Tribunal Federal não precisava era de um novo episódio para colocar sua credibilidade em xeque. Pois foi o que o ex-presidente Gilmar Mendes conseguiu com seu pedido de vista à ação que questionava a exigência de apresentação do título de eleitor e de um documento de identidade na hora do voto. A imagem que Gilmar Mendes passou para o país foi a de que estava agindo politicamente. Se o julgamento estivesse no início e o ministro pedisse vista, o ato até poderia ser considerado normal. Interromper uma votação que já estava sete a zero em favor da simplificação do processo de identificação do eleitor serviu para semear mais confusão e empurrou a credibilidade do Supremo alguns degraus abaixo. Gilmar Mendes prometeu devolver o processo hoje, para que seja concluído o julgamento. É o mínimo que se espera para apagar a ideia de que alguém está querendo ganhar a eleição no tapetão. O erro não começou no Supremo. Começou com a minirreforma eleitoral que instituiu a exigência de apresentação do título, um documento que há vários anos o eleitor não precisa mostrar na hora de votar. O TSE fez campanhas de esclarecimento, mas, às vésperas da eleição, descobriu que até mesmo entre os eleitores mais esclarecidos grassa a desinformação sobre essa exigência.
Foi por medo de que os eleitores de baixa escolaridade não pudessem votar, o que prejudicaria a candidata Dilma Rousseff, que o PT recorreu ao Supremo Tribunal Federal para tentar derrubar a exigência de apresentação dos dois documentos. Relatora do processo, a ministra Ellen Grace entendeu que a exigência afrontava a Constituição – e que havia o risco de tumulto no dia da eleição. Outros seis ministros acompanharam seu voto, mas, para surpresa geral, Gilmar Mendes decidiu prolongar o suspense. Se o ministro não devolver o processo hoje, como prometeu, resta ao presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, editar uma resolução dispensando a exigência do título, ou manter a exigência, mesmo sob risco de uma abstenção sem precedentes no pleito de domingo.
ALIÁS
Só depois da apuração se terá ideia do prejuízo causado à deputada Maria do Rosário (PT) pela demora no julgamento de seu recurso, mas para ela o mais importante é ter a decisão favorável antes da eleição.
Debate eleva a audiência
Alguma dúvida de que o eleitor gaúcho adora política? A audiência do debate entre os candidatos a governador, terça-feira à noite, na RBS TV, é a prova do interesse: cerca de 1,5 milhão de pessoas assistiram ao confronto.
No horário, a audiência cresceu em comparação com as terças-feiras anteriores e chegou a 23,9 pontos, com 48,6% de participação na medição domiciliar na Região Metropolitana. Traduzindo, significa que quase metade das TVs ligadas no horário estavam sintonizadas na RBS TV. A segunda colocada teve menos da metade –10,5 de audiência e 21,5% de share.
Denúncia vazia
A bomba prometida por Aroldo Medina (PRP) no debate não passou de um traque. Às 7h de ontem, o candidato se postou diante do Piratini para denunciar a suposta contratação de empresa-fantasma para prestar serviços à Brigada Militar. Pouco antes do meio-dia, o dono da construtora Sistemax Ltda, Werner Wagner, foi localizado e apresentou o alvará de funcionamento e outras provas de regularidade da empresa. Em entrevista coletiva, a BM apresentou uma lista de 17 obras que a empresa tem contratadas com o Estado, algumas já concluídas. Também foram distribuídos cópias do alvará da construtora e registro no Crea e no CNPJ. A BM anunciou a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta de Medina. Como ele está afastado das funções para concorrer, o procedimento ficará parado até o retorno dele à corporação, depois do pleito. O comandante-geral da BM, coronel João Carlos Trindade, informou que Medina será remanejado para uma unidade nem tão próxima que pareça inércia, nem tão distante que seja interpretada como vingança.
ECONOMIA FORÇADA
Enquanto outros candidatos sofrem com a arrecadação, Tarso Genro (PT), que ontem fez roteiros em Bagé (foto) e outras cidades da Fronteira, vive uma situação inversa: precisa segurar os gastos porque está próximo de extrapolar o limite registrado por sua coligação no Tribunal Regional Eleitoral, de R$ 10 milhões. A campanha se esmera para gastar, no máximo, R$ 7 milhões até domingo – e até agora recebeu R$ 4,5 milhões em doações. Em caso de segundo turno, será avaliada a necessidade de pedir autorização para novas despesas. No último comício com Lula, por exemplo, uma centena de ônibus que viria do Interior foi suspensa para economizar. Integrantes da cúpula afirmam que o ideal teria sido elevar em pelo menos R$ 2 milhões o limite, o que daria fôlego para reforçar eventos e propaganda de rua. – Fomos modestos na estimativa – analisa um representante da coordenação.
De olho na pesquisa
A pesquisa do Datafolha divulgada ontem à noite mostra que, se a eleição fosse hoje, o candidato do PT, Tarso Genro, venceria no primeiro turno, com 52% dos votos válidos. Com a margem de erro de três pontos percentuais, porém, o segundo turno não pode ser descartado, já que, no levantamento anterior, Tarso tinha 54% dos válidos.
- Coincidência:
-A diferença que separa Tarso de José Fogaça (PMDB) é de 20 pontos percentuais, tanto na espontânea (35% a 15%) quanto na estimulada (45% a 25%).
- A menos de uma semana da eleição, 52% dos eleitores gaúchos não sabem o número do seu candidato a governador. O desconhecimento maior é dos eleitores de Fogaça: 69% dos que pretendem votar nele não sabem qual é o número.
- Entre os eleitores de Tarso, 43% ignoram seu número.
- Dos que declaram voto em Yeda Crusius (PSDB), 53% não souberam indicar seu número.
- Tarso chega a 50% das intenções de voto entre os homens, mas cai para 40% entre as mulheres.
- Os índices de Fogaça são equilibrados entre os dois sexos (24% entre os homens e 26% entre as mulheres).
DISPUTA AO SENADO
- Ainda há milhares de votos em disputa na eleição para o Senado: 23% escolheram somente um dos dois candidatos e 9% ainda não escolheram nenhum dos dois.
Teto
O teto de arrecadação de Tarso Genro é bem menor do que o estipulado por seus concorrentes. Yeda Crusius (PSDB) registrou teto de R$ 23 milhões para sua campanha, mas deve gastar R$ 10 milhões no primeiro turno – até o momento, arrecadou R$ 6,5 milhões.A campanha de José Fogaça (PMDB) registrou despesas de R$ 14 milhões e prevê gastar a metade até domingo – mas só arrecadou R$ 3,2 milhões.Pela legislação, o candidato que ultrapassar o valor informado estará sujeito a multa de cinco a 10 vezes o valor que excedeu e pode, ainda, responder por abuso do poder econômico. Existe a possibilidade de solicitar alteração nos valores, mas deverá ser justificada à Justiça Eleitoral.
Suspense
Até domingo, com a definição dos indecisos, os números podem mudar, mas, das pesquisas conhecidas até ontem, três indicavam vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno (Ibope, Sensus e o tracking diário do Vox Populi) e uma (Datafolha) apontava segundo turno.Levando-se em conta as margens de erro, é impossível garantir o resultado.