30 de mai. de 2012

Por: Eliane Cantanhêde

Peixeira no pescoço

Quando os advogados dos réus do mensalão se reuniram e redigiram uma carta aos membros do Supremo Tribunal Federal pedindo que eles não julgassem com "a faca no pescoço", a pergunta imediata foi: Ué, quem teria a coragem de botar a faca no pescoço dos ministros da mais alta corte?

  • Agora, uma outra dúvida, legítima, é se eles sabiam que o ex-presidente Lula decidira sair à cata dos ministros, ou diretamente ou recorrendo aos padrinhos deles, para adiar o julgamento e evitar efeitos negativos nas campanhas do PT para as prefeituras.
  • Nada poderia caracterizar mais forte e dramaticamente a "faca no pescoço" do que a pressão, orientação ou mesmo insinuação de um ex-presidente da República que, não bastasse, desceu a rampa do Planalto com 80% de popularidade e indicou nada mais nada menos que 8 dos onze atuais ministros do Supremo.
  • Um pedido de Lula não é mais uma ordem e, aliás, jamais deveria ter sido uma ordem, para não caracterizar ingerência entre Poderes e gestão nada republicana. Mas, convenhamos, tem uma força enorme de "convencimento". Não é apenas uma faca, mas uma verdadeira peixeira nos pescoços togados do Supremo.
  • Descoberto o encontro ultra sigiloso de Lula com Gilmar Mendes --que é notório adversário do PT --no escritório de Nelson Jobim, mentes férteis dão trato à bola para saber se, quando e o que Lula andou conversando, por exemplo, com os ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, que devem suas nomeações direta e pessoalmente a ele.
  • Com toda sua genialidade política, decantada em prosa e verso, Lula anda pisando muito na bola ultimamente e suas gestões tendem a ter um efeito oposto aos seus objetivos: se ele queria convencer os ministros a adiarem o julgamento, agora eles estarão praticamente compelidos, até por uma questão de brio, a julgar no devido tempo - ou seja, já.
  • Quanto a Gilmar e Jobim? Essa é daquelas histórias horrorosas em que ninguém sai bem, muito pelo contrário.
Eliane Cantanhêde
Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da pág. A-2 da Folha e daFolha.com, onde escreve às quartas-feiras. É também comentarista do telejornal "Globonews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.